Frequentemente,
a classe homeopática é surpreendida por críticas ao seu modelo
terapêutico, na maioria das vezes por indivíduos que desconhecem os
preceitos básicos da Homeopatia. O jargão mais utilizado é que a
Homeopatia “não apresenta comprovação científica”.
Lembrando que os pilares fundamentais da Homeopatia são o princípio terapêutico pela similitude e a experimentação dos medicamentos em indivíduos humanos (sadios), iremos discorrer nessa introdução sobre a comprovação científica da lei dos semelhantes, confirmada em inúmeros estudos clínicos e experimentais da Farmacologia moderna.
Importa
salientar que o modelo homeopático é fundamentalmente experimental,
fruto da observação criteriosa do efeito das substâncias no organismo
humano. Apoiado nestas evidências, Samuel Hahnemann propôs o tratamento
pelo princípio da semelhança. Nos parágrafos 63 e 64 de sua obra máxima,
Organon da arte de curar, Hahnemann estipula o mecanismo universal de ação das drogas, sistematizando-o: “todo medicamento causa certa alteração no estado de saúde humano pela sua ação primária; a esta ação primária do medicamento, o organismo opõe sua força de conservação, chamada ação secundária ou reação vital, no sentido de neutralizar o distúrbio inicial”.
Observando
que esta “ação secundária ou reação vital do organismo” poderia ser
empregada de forma curativa, desde que direcionada no sentido correto,
Hahnemann propôs um modelo terapêutico no qual se administra ao
indivíduo doente um medicamento que causou (experimentação em indivíduos
sadios) sintomas semelhantes aos seus, com o intuito de estimular uma
reação do organismo contra a própria doença. Daí surgiu o princípio terapêutico pela similitude: “todo
medicamento capaz de despertar determinados sintomas no indivíduo
sadio, pode curar esses mesmos sintomas no indivíduo doente”.
Assim
fundamentado, Hahnemann passou a experimentar uma série de substâncias
em indivíduos considerados “sadios”, anotando todos os sintomas (ações
ou efeitos primários, patogenéticos) que neles surgissem, confeccionando
com isto a Matéria Médica Homeopática.
À medida que defrontava pacientes com sintomas semelhantes às drogas
experimentadas, aplicava-as a esses enfermos, no sentido de estimular a
reação vital, secundária e curativa do organismo, obtendo com isso a
melhora progressiva e duradoura dos sintomas.
Desse modo, a aplicação do princípio terapêutico homeopático implica no estimular
uma reação homeostática e curativa do organismo, direcionada pelos
efeitos primários da droga que causou nos experimentadores sadios
sintomas semelhantes aos sintomas da doença original.
Fundamentando
cientificamente o princípio da similitude perante a Farmacologia e a
Fisiologia modernas, vimos estudando nas últimas décadas os eventos
adversos das drogas alopáticas e encontrando uma infinidade de
evidências, tanto em compêndios farmacológicos quanto em ensaios
clínicos e estudos experimentais, que descrevem uma reação secundária e oposta do organismo ao estímulo primário das drogas, confirmando
as observações de Hahnemann e os pressupostos homeopáticos. Esta ação
secundária e oposta do organismo, no sentido de manter a homeostase
orgânica, é denominada efeito rebote ou reação paradoxal do organismo, segundo a racionalidade científica moderna.
Ilustrando o acima exposto, teríamos que drogas utilizadas classicamente para o tratamento da angina de peito
e que promovem, inicialmente, a melhora da dor torácica como efeito
primário, despertam, como ação secundária ou efeito rebote, após a
descontinuação da medicação ou tratamento irregular, exacerbação dessa
dor torácica, tanto na frequência quanto na intensidade, em alguns casos
não responsivos a qualquer terapêutica. Drogas utilizadas usualmente no
controle da hipertensão arterial
podem provocar uma hipertensão arterial rebote, como reação secundária
ao estímulo primário. Agentes cardiotônicos, empregados no tratamento da
insuficiência cardíaca,
promovem, após a suspensão da administração, rebote hemodinâmico, com
riscos de desencadear severos problemas cardíacos. Fármacos empregados
para diminuir o colesterol, despertam um aumento rebote e significante do colesterol sanguíneo. No emprego de drogas psiquiátricas (ansiolíticas, sedativas, antidepressivas, antipsicóticas, etc.),
observa-se uma reação do organismo no sentido de manter a homeostase
orgânica, despertando como resposta secundária sintomas opostos aos
esperados na sua utilização terapêutica primária, agravando os quadros
iniciais. Medicamentos neurológicos, utilizados em sua ação primária
para evitar convulsões, movimentos discinéticos ou contrações musculares
apresentam, como reação secundária ou efeito rebote, uma exacerbação
desses mesmos sintomas após a suspensão da medicação. Drogas
antiinflamatórias, utilizadas primariamente para suprimir a inflamação,
desencadeiam respostas paradoxais no organismo aumentando a inflamação.
Drogas antiagregantes plaquetárias, empregadas por seu efeito primário
na profilaxia da trombose sanguínea, promovem complicações trombóticas como ação secundária ou efeito rebote. Diuréticos, utilizados primariamente para diminuir a volemia (edema, hipertensão arterial, ICC, etc.), causam aumento da retenção de sódio e potássio, em consequência do aumento rebote da volemia. Medicamentos empregados para a acidez gástrica ou dispepsia (gastrites, úlceras gastroduodenais, etc.)
promovem aumento rebote da acidez gástrica com consequente piora das
gastrites e das úlceras gastroduodenais após o efeito primário
antiácido. Fármacos empregados na asma brônquica desencadeiam piora da broncoconstrição, como resposta secundária do organismo à suspensão ou descontinuidade do tratamento. Etc.
Trazendo
algumas das muitas evidências encontradas na Ciência moderna sobre o
princípio da similitude terapêutica, completo o relato com exemplos do
emprego de drogas convencionais segundo o método homeopático.
Utilizando-se da reação secundária do organismo como forma de tratamento
(princípio homeopático), administrou-se um contraceptivo bifásico
(anovulatório) para pacientes que apresentavam esterilidade funcional,
incapazes de ovular e engravidar. Após a suspensão da droga, observou-se
a ovulação em aproximadamente 25% das pacientes e, dentre estas, 10%
engravidaram. Outras drogas modernas poderiam ser utilizadas segundo o
método homeopático de tratamento, desde que provocassem no indivíduo
humano os mesmos sintomas que se desejam tratar no indivíduo doente.
Nesse
breve relato, citei algumas evidências científicas do princípio de cura
homeopático ou princípio terapêutico pela similitude, descritas com
detalhes no livro “Semelhante Cura Semelhante: o princípio de cura homeopático fundamentado pela racionalidade médica e científica” e no projeto “Novos Medicamentos Homeopáticos: uso dos fármacos modernos segundo o princípio da similitude”, ambos descritos nesse site.
Outras comprovações científicas do modelo homeopático podem ser obtidas no recente artigo de revisão “Evidências científicas da episteme homeopática” ou no tópico “Literatura Científica” citado abaixo, que compreende as diversas linhas de pesquisa em homeopatia (pesquisa clínica, pesquisa básica, pesquisa patogenética e pesquisa social).
Autor: Dr. Marcus Zulian Teixeira