quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Tratamento homeopático da depressão: relato de série de casos

Caras e caros colegas,
Nossos modestos recursos computacionais não nos permitiram adequar as 
tabelas e algum texto a nosso formato. Mesmo assim publicamos este material da
psiquiatria da USP porque está excelente. Contamos com sua compreensão.



Relato de Caso
Tratamento homeopático da depressão: relato de série de casos
Homeopathic treatment of depression: series of case report
Ubiratan Cardinalli Adler1, Nielce Maria de Paiva2, Amarilys de Toledo César3,
Maristela Schiabel Adler4, Adriana Molina5, Helena Maria Calil6
1 Médico homeopata, mestre em Ciências, doutorando do Departamento de 
Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina (Unifesp/EPM).
2 Médica homeopata, assistente de Pesquisa Clínica – Pós-graduação em 
Homeopatia da Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ).
3 Farmacêutica homeopata, doutora em Saúde Pública, professora de 
Pós-graduação em Homeopatia da FMJ.
4 Médica homeopata, mestre em Ciências, professora da Pós-graduação em 
Homeopatia da FMJ.
5 Farmacêutica homeopata, mestre em Ciências, professora da Pós-graduação 
em Homeopatia da FMJ.
6 Médica psiquiatra, chefe da disciplina de Psicofarmacologia do Departamento 
de Psicobiologia da Unifesp/EPM.

Endereço para correspondência: Helena Maria Calil.
Rua Napoleão de Barros, 925, Vila Clementino – 04024-002 – São Paulo, SP. 
Resumo
Contexto: Não há estudos metodologicamente adequados sobre a eficácia da 
homeopatia na depressão. Relatos de casos clínicos são os primeiros degraus da 
evidência clínica, a caminho de estudos controlados. Objetivos: Relatar 
resultados preliminares do tratamento homeopático de pacientes com depressão 
no SUS de Jundiaí. Métodos: Revisão dos prontuários dos casos novos, atendidos 
entre março e dezembro de 2006. O diagnóstico foi confirmado por entrevista 
 estruturada. Os pacientes receberam homeopatia individualizada e a evolução 
foi avaliada pela escala de Montgomery & Åsberg (MADRS). Resultados: Foram 
tratados 15 casos e observou-se resposta terapêutica (redução maior que 50% 
dos escores de depressão) em 14 pacientes (93%), após uma média de sete 
semanas de tratamento; um paciente apresentou piora clínica e foi encaminhado 
ao tratamento convencional. O escore média (± dp) na Escala de Avaliação de 
Depressão de Montgomery-Åsberg diminuiu de 24,9 (± 5,8) a 9,7 (± 8,2, p < ,0001)
na segunda avaliação, resultados mantidos no decorrer da terceira e quarta 
consultas. Conclusões: Os resultados sugerem que a homeopatia pode ser uma 
alternativa terapêutica no tratamento da depressão, mas estudos randomizados e 
controlados são necessários para se testar a eficácia e segurança do tratamento 
homeopático dos transtornos depressivos.
Adler U.C. et al. / Rev. Psiq. Clín 35 (2); 74-78, 2008
Palavras-chave: Homeopatia, depressão, SUS, relato de série de casos.
Abstract
Background: Evidence for the efficacy of homeopathy for depression is limited 
due to lack of clinical trials of high quality. Case reports are the first steps of 
clinical evidence, towards controlled trials. Objectives: To report preliminary 
results of homeopathic treatment of depression in Jundiai’s public health system, 
Sao Paulo. Methods: Review of the medical records of new patients, treated 
between March and December 2006. Their diagnosis was confirmed by a 
semi-structured interview. Patients received individualized homeopathy and their 
response was measured by the Montgomery & Åsberg depression scale (MADRS). 
Results: Fifteen patients were treated and response (more than 50% decrease of 
MADRS scores) was observed in 14 patients (93%), after an average of seven 
weeks of treatment; one patient had clinical worsening and was refered to 
conventional antidepressant therapy. The MADRS mean scores (± dp) decreased 
from 24.9 (± 5.8) to 9.7 (± 8.2, p < .0001) in the 2nd evaluation, and these results 
signifcance were sustained through the 3rd and 4th assessments. Discussion
 these results suggest that homeopathy may be an alternative therapeutics for 
depression, but randomized and controlled studies are needed to test the efficacy 
and safety of the homeopathic treatment of the depressive disorders.
Adler U.C. et al. / Rev. Psiq. Clín 35 (2); 74-78, 2008
Key-words: Homeopathy, depression, public health system, series of case reports.
Introdução
O tratamento convencional da depressão com antidepressivos apresenta resposta terapêutica, ou seja, redução maior que 50% do escore basal1 em torno de 50% a 
60% dos pacientes tratados2. Os antidepressivos não impedem altos índices de 
recorrência da doença3,4, produzem efeitos adversos freqüentes e clinicamente 
relevantes5, sendo até evitados por pacientes mais idosos após uma experiência 
negativa com seu uso6.
A depressão é um dos principais motivos para o uso de terapias alternativas e complementares nos Estados Unidos7 e o tratamento homeopático é uma das 
alternativas terapêuticas procuradas por esses pacientes.
A Homeopatia é uma terapêutica desenvolvida pelo médico alemão Christian 
Friedrich Samuel Hahnemann (1755-1843), reconhecida como especialidade 
médica no Brasil desde 1980, reconhecimento reafirmado em 2002, por meio da 
Resolução CFM no 1634/2002.
A recém-publicada Portaria no 971 do Ministério da Saúde (DOU, Seção 1, nº 84, 
04/05/2006, p. 20) aprovou a Política Nacional de Práticas Integrativas e 
Complementares (PNPIC), estabelecendo diretrizes para a incorporação da 
Homeopatia ao SUS e para avaliação da atenção homeopática em parceria com 
instituições formadoras, universidades, faculdades e outros órgãos dos governos 
 federal, estaduais e municipais.
Antecipando-se à Portaria 971, em agosto de 2003 a Faculdade de Medicina de 
Jundiaí, São Paulo, inaugurou o único curso de Especialização em Homeopatia no 
país oferecido por uma Faculdade de Medicina e aprovado pelo Conselho Estadual
de Educação (http://www.fmj.br).
A partir de fevereiro de 2004, o ambulatório-escola de Homeopatia passou a 
funcionar como um serviço de atenção secundária à saúde, recebendo 
encaminhamentos da rede básica, direcionados para a primeira especialidade ou 
projetos de pesquisa dos preceptores, como é o caso do ambulatório de 
homeopatia e transtornos depressivos.
Se ainda não existem evidências científicas favoráveis ao uso da Homeopatia na 
depressão, também não as há em contrário, pois os poucos estudos clínicos 
existentes não são metodologicamente adequados8.
Assim apresentamos a seguir uma série de casos clínicos de depressão tratados exclusivamente com Homeopatia no Ambulatório de Homeopatia e Transtornos 
Depressivos no SUS de Jundiaí.
Metodologia
Foram revisados os prontuários dos pacientes que tiveram sua primeira consulta 
entre março e dezembro de 2006.
Pacientes encaminhados ao ambulatório de Homeo­patia e transtornos depressivos pelo sistema de referência e contra-referência do SUS de Jundiaí passaram por uma 
pré-consulta, na qual foram submetidos a uma entrevista clínica estruturada para 
o diagnóstico da depressão, segundo os critérios do DSM-IV (SCID9).
Aqueles que preencheram os critérios diagnósticos de um episódio depressivo 
foram esclarecidos sobre a falta de evidências científicas da efetividade da 
Homeopatia no tratamento da depressão e, após terem assinado um termo de 
consentimento livre e esclarecido, foram agendados para o início do tratamento homeopático, no primeiro horário disponível. Antidepressivos eventualmente em 
uso foram descontinuados de forma gradual até a ocasião da primeira consulta 
homeopática.
Nos casos relatados, as consultas ocorreram aproximadamente a cada sete 
semanas e foram precedidas por uma avaliação do escore de depressão por meio 
da aplicação da escala de Montgomery & Åsberg (MADRS).
A escala MADRS foi escolhida por sua maior sensibilidade às mudanças na 
sintomatologia depressiva10,11. Nessa escala, escores menores ou iguais a 10 
caracterizam a remissão do episódio depressivo1.
Cada paciente recebeu um medicamento individualizado para o seu caso de 
doença, preparado e administrado de acordo com a metodologia hahnemanniana1
2.
Utilizou-se a análise unidirecional de variância de medidas repetidas com última 
observação levada à diante (LOCF) para comparação das avaliações em quatro 
perío­dos. Quando se identificaram diferenças significativas, aplicou-se uma
 análise post hoc, usando-se o teste de Bonferroni para comparações múltiplas13.
 Valores de p menores que 0,05 foram considerados significativos.
Este relato de casos clínicos foi aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa da 
FMJ.
Resultados
Nos sete meses entre março e outubro de 2006, foram atendidos 15 casos novos, 
dos quais apenas um do sexo masculino. A idade variou de 23 a 70 anos, com 
média de 43,1 anos, e a escolaridade, do 1º grau incompleto até o mestrado. A 
tabela 1 resume as características sociodemográficas dos pacientes atendidos.
A tabela 2 resume as comorbidades apresentadas pelos casos relatados e a 
respectiva medicação convencional (quando em uso).
O tempo transcorrido entre a primeira consulta e o primeiro retorno foi, em média,
sete semanas (4 a 22 semanas). Os 15 pacientes compareceram ao primeiro 
retorno, dos quais 12 foram reavaliados em relação ao escore de depressão. Treze pacientes compareceram ao segundo retorno, que ocorreu, em média, 7,5 semanas (4 a 14) 
depois do primeiro, sendo todos avaliados em relação ao escore MADRS. Apenas 
cinco pacientes já compareceram a um terceiro retorno.
Dos 15 casos relatados, 14 (93%) apresentaram resposta terapêutica, e destes 13 
(87%) evoluíram com remissão do episódio depressivo. Um paciente referiu piora 
da ideação suicida na quarta semana, sendo medicado com fluoxetina e 
encaminhado ao ambulatório de saúde mental, onde voltou a fazer tratamento 
convencional, com melhora do quadro depressivo.
A tabela 3 traz a duração da depressão e do episódio depressivo, os escores de 
depressão MADRS pré-tratamento (basal) e no primeiro e segundo retornos, bem 
 como o medicamento homeopático utilizado no tratamento de cada paciente.
O escore MADRS apresentou redução da média basal de 24,87 (± 5,81) para 9,73 
(± 8,16) no primeiro retorno (p < 0,0001). A tabela 4 apresenta a média dos 
escores MADRS em cada tempo de avaliação, considerando-se a última 
observação
levada adiante (LOCF).
A figura 1 ilustra a evolução da média dos escores de depressão (LOCF) no 
decorrer do tratamento homeopático.
Durante o período de tratamento relatado, alguns casos também apresentaram 
modificações importantes nas comorbidades. Os pacientes no 1 e no 5 
emagreceram 15 e 8 kg, respectivamente. A paciente de no 9 apresentou remissão 
das crises de pânico e a paciente de no 4 apresentou rebrotamento capilar na área de alopecia.
Discussão
Séries de casos clínicos estão no penúltimo degrau dos níveis de evidência 
científica, ficando acima apenas da opinião de especialistas. No ápice da escala 
estão os estudos randomizados e controlados e suas respectivas revisões 
sistemáticas14.
Uma revisão sistemática recente8 encontrou apenas dois estudos randomizados 
sobre o tratamento homeo­pático da depressão como principal diagnóstico. Em 
ambos foram identificados problemas metodológicos, como a não-descrição da 
randomização e número insuficiente de pacientes recrutados, impedindo quaisquer
conclusões sobre a eficácia do tratamento.
Entre as causas apontadas para a escassez de publicações de qualidade que 
avaliem o tratamento homeopático da depressão, incluem-se:
  • Dificuldade em se desenvolver redes de tratamento homeopático que 
  • permitam estudos com um grande número de pacientes.
  • Falta de uma massa crítica de pesquisadores em homeopatia.
  • Ausência de financiamento adequado para apoiar estudos de boa qualidade, 
  • em um ou múltiplos centros.
  • Desafios próprios à metodologia homeopática dentro da pesquisa em 
  • medicinas alternativas e complementares (CAM), como a individualização do medicamento15.
A melhora observada nos casos relatados pode ser resultado da remissão 
espontânea do episódio depressivo, ou mesmo do efeito placebo, responsável, em 
média, por 30% de resposta terapêutica em pacientes com depressão16. Para 
avaliar a eficácia do tratamento homeopático, propusemos um estudo 
randomizado, controlado e duplo-cego, comparando o uso da homeopatia com 
placebo no tratamento da depressão, mas este não foi aprovado pela Comissão 
Nacional de Ética em Pesquisa (parecer CONEP no 316/2005). O braço placebo 
não foi aceito, tendo a CONEP sugerido a realização de um grupo-controle ativo, 
tratado com um antidepressivo consagrado.
Apesar dos questionamentos que possam ser feitos acerca da validade de estudos 
sobre novas medicações contra depressão que não incluam um grupo placebo16, readequamos nosso projeto para comparar o tratamento homeopático a um 
controle ativo (estudo em andamento), pois entendemos ser necessária a avaliação científica e imparcial da Homeopatia oferecida no SUS, conforme preconizam as diretrizes 
do Ministério da Saúde.
Agradecimento
À Farmácia HN-Cristiano, de São Paulo, pela doação dos medicamentos 
homeopáticos.
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Órgão Oficial do Departamento e Instituto de Psiquiatria
Faculdade de Medicina - Universidade de São Paulo