quinta-feira, 29 de outubro de 2015

LYCOPODIUM CLAVATUM E WOTAN: UM ENCONTRO ENTRE O MITO, A HOMEOPATIA E O TEMA DO PODER


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Escrito por: Dr. Antolini

Autores: Antolini J ; Rodrigues R; Pinheiro L ; Nogueira A ; Fiorentini G

Resumo : Os medicamentos homeopáticos são úteis para patologias psíquicas por poderem auxiliar na resolução de complexos energéticos psi através da energia similar do medicamento (Kent).
O psiquiatra suíço CGJung elaborou a teoria dos Arquétipos e ressaltou a importância de compreender o mito pessoal do paciente ,conceitos úteis para aqueles que, como os homeopatas, trabalham sintomas mentais.
O objetivo deste trabalho é rever o Mito do Poder, vivenciado pelo deus germânico Wotan, em Lycopodium clavatum, seguindo as bases da Análise Junguiana. Material e Método: Estudou-se o mito de Wotan, os sintomas de Lycopodium e o Complexo do Poder clinicamente manifestado,através da Literatura Homeopática e Junguiana.
Resultados : O sacrifício da afetividade ocorre quando um complexo emocional é mais forte que qualquer outra necessidade psíquica do indivíduo.
Wotan é alguém inseguro e frágil,como o musgo Lycopodium de pouco mais de um metro, sempre, porém, rastejando no chão” ,mas buscando se impor autoritariamente(Whitmont), assim como... “pessoas desvalorizadas costumam se deixar levar pela ambição do poder” ( Bolen) numa compensação sicótica.
Lycopodium-Wotan apresentar-se-á com os seguintes sintomas-guia em comum: minusvalia, obstinação pelo poder,autoritarismo,comprometimento das aspirações ético-morais da personalidade com deterioração do pólo afetivo,insegurança,duro com os subordinados e submisso aos superiores,medo de falhar,obsessão pelo poder,ambição,autoritarismo e inafetividade.
Conclusão:As personalidades psíquicas sic oticamente centradas no Poder re-vivenciam o mito do deus Wotan.Arquétipos sombrios são vigorosas forças de sustentação para personalidades originalmente débeis. Em Jung a individualização de cada paciente,a compreensão do seu mito pessoal pelo terapeuta são base para se perceber a dinâmica psiquica,necessária a escolha do Simillimum Palavras-chave:Homeopatia;Complexos psiquicos;Lycopodium clavatum


LYCOPODIUM CLAVATUM E WOTAN:UM ENCONTRO ENTRE O MITO, A HOMEOPATIA E O TEMA DO PODER

Introdução: A riqueza dos sintomas mentais nas patogenesias dos medicamentos homeopáticos representa um valioso arsenal para o tratamento de vários sintomas de patologias psíquicas.
O medicamento homeopático prescrito segundo as leis de similitude e hierarquia dos sintomas, ao priorizarem os sintomas mentais característicos, podem auxiliar na resolução de complexos energéticos psi através da energia similar do medicamento homeopático.
Compreender o mito pessoal do paciente e com qual arquétipo ele se identifica, pode representar um instrumento útil ao clínico homeopata. A partir da análise temática do mito ( mitologema ) descobrem-se imagens psicodinâmicas do cenário pessoal (Hollis,2004) . A história de vida do indivíduo manifesta a energia psi do seu mito pessoal ,denominadas, em linguagem homeopática , energia vital e dinâmica miasmática.
O Poder,tema central na psicodinâmica de Lycopodium-c., tem sido base para estudos profundos de Filosofia aplicada ao psiquismo.
Objetivos : Rever o Mito do Poder, vivenciado por Lycopodium clavatum, estabelecendo os pontos de contato entre este medicamento e o deus germânico Wotan, caracterizados ambos pelo narcisimo, ilusão de grandiosidade e despotismo ditatorial, seguindo as bases da Análise Junguiana.
Material e Método: Com base no pensamento transdisiplinar de Edgar Morin , aproximando a Mitologia , a Psicologia Junguiana e a Homeopatia, estudou-se o mito de Wotan, ressaltando-se os sintomas mentais desta divindade arquetípica (Shimoda Bolen), à fim de se estabelecer um paralelismo com os sintomas mentais de Lycopodium clavatum, descritos nas Matérias Médicas Homeopáticas (llen, Hahnemann, Hering e Kent) e nos Repertórios Homeopáticos( Kent, Ariovaldo).
Foram revistos resumidamente os conceitos junguianos de Símbolos,Arquétipos, Mitos, Energia Psi e Complexos, à fim de possibilitar uma avaliação homeopática dos Arquétipos individuais e coletivos.
Resultados:
-Definições Junguianas necessária à compreensão do estudo:
Alguns conceitos básicos junguianos tornam-se necessários para a compreensão do tema. A seguir,algumas das definições utilizadas na elaboração deste trabalho sobre o paralelismo entre o tema do Poder em Wotan e Lycopodium-c:
I - Arquétipo:
Jung , citado por Hillman, refere que o(s) Arquétipo(s) é (são) o princípio organizador de imagens que fornecem à realidade psíquica seus padrões específicos. Possuem um padrão de organização e governam a vida psíquica da personalidade. Assim, o indivíduo dominado pelo Arquétipo de Poder teria toda a sua vida girando ao redor desta realidade psíquica. (Hillmann, 1978).
A psiquê é altamente seletiva em relação àquilo que a mobiliza. Desta forma, a motivação do indivíduo que vivencia o mito do Poder, será voltada à consolidação deste tema.


II- Simbolo:

Para Mircea Eliade, “O Símbolo não somente torna o Mundo ‘aberto’ , mas também ajuda o indivíduo a alcançar o universal”. (Eliade, M-Le Sacré et le Profane- Ed. Gallimard, Paris, 1992.)
Já Jung define o símbolo como algo pleno de significados, aquilo que é a melhor descrição possível de um conteúdo desconhecido que, no entanto, é postulado como existente”.

III- Mito:

Os mitos, para Jung, descrevem o comportamento dos Arquétipos; no dizer de Hillman, os arquétipos “são as bases da psicologia arquetípica”. Em um mito , são os fatores seletivos responsáveis pelo arranjo do padrão particular em que o indivíduo se encontra. O grande mitólogo Mircea Eliade, citando Hesíodo, demonstra que existe um princípio racional que rege os Mitos. Compartilham deste pensamento os filósofos antigos Parmênedes e Empédocles.
Homero, aprofundando o tema, faz referências aos deuses como características particulares das faculdades humanas. (Eliade,1963).


IV - Complexo e Arquétipo:

Para Jung e Hillman , a energia Psi mobilizada por determinado complexo pode ter um comportamento autônomo e um caráter arcaico. O núcleo do complexo pode ser arquetípico.Muitos complexos são separados do consciente, mas transbordam do inconsciente com suas convicções e impulsos incontestáveis. Devem sua relativa autonomia à sua natureza emocional. São compostos por uma casca e um núcleo.
A casca são as atitudes reativas, dependentes de uma rede de associações, em torno de uma atitude central bem estruturada em bases psíquicas profundas- o núcleo.
Numa aproximação com a Filosofia Homeopática , o núcleo seria a Psora e a(s) casca(s) seriam a Sicosis e a Sífilis.
Os complexos, além da forma, tem um aspecto dinâmico, o que representaria, em linguagem homeopática, a Dinâmica Miasmática que gira , ao redor do núcleo psórico.
Complexos psíquicos, segundo o eminente psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, são formados a partir de condensações da energia psíquica, estabelecendo bloqueios ao funcionamento harmônico do indivíduo. Os complexos, além de sua representação individual, apresentam-se , também, sob a forma de estruturas coletivas/Arquetípicas, que podem se traduzir pelos Mitos, dentre outras formas de manifestação.
O complexo de Poder, tema deste estudo, se manifestaria por sintomas mentais característicos, como: egocentrismo narcísico( para exercer o poder, as necessidades alheias tendem a ser ignoradas ), autoritarismo, intolerância à contradição, competitividade, apego ao Poder etc.
Jung analisa, ainda , a existência de um núcleo mitológico do(s) complexo(s) , arquétipos ou manifestações coletivas pertencentes às tendências para certos tipos de representações simbólicas inerentes ao indivíduo( Whitmont, E.C.).
Estes complexos mitológicos traduzem-se através dos Mitos- nos quais se incluem as fábulas- importantes formas de apresentação psicanalítica destes arquétipos. Betelheim define os contos de fadas como uma importante forma de comunicação da linguagem simbólica do inconsciente. A psicanalista junguiana M.L. Von Franz acrescenta que eles são uma valiosa via de comunicação entre os Arquétipos e o inconsciente individual. Baseando-nos na importância mitológica dentro da abordagem junguiana como auxiliar para a compreensão dos sintomas psíquicos do indivíduo de interesse para a prática homeopática, revisitamos homeopaticamente o Mito do Deus Wotan, estudado pela psiquiatra e terapeuta junguiana Shimoda Bolen, a partir da ópera de Wagner “O Anel dos Nibelungos” ou “ O Anel do Poder”.
Avaliando o Mito, observamos amplas correspondências arquetípicas entre Wotan e o Mito Pessoal de Lycopodium clavatum, atraídos e dominados sicoticamente pelo desejo de poder.
Apresentaremos primeiramente as principais características do deus poderoso e despótico e, em seguida, proporemos o paralelismo dos seus sintomas com os de Lycopodium clavatum, descritos nas Matérias Médicas Puras Homeopáticas( Hahnemann, Allen), nas Matérias Médicas de Hering e Kent e pelos Repertórios de Kent, Ariovaldo, Barthel e Eizayaga.
A propósito, no Repertório Homeopático , Lycopodium figura como único remédio que possui “ amor pelo poder” .


WOTAN:
A BUSCA DO PODER E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA A ALMA ( PSIQUÊ):


O deus germânico Wotan torna-se conhecido principalmente a partir da Idade Média. É a mais importante divindade da mitologia germânica, equivalendo ao Zeus da Mitologia Greco-Romana da antiguidade.
No Reino de Wotan, há um anel, símbolo do poder. A conquista para possui-lo exige sacrifícios psicológicos graves, principalmente ao que se refere ao amor e à sabedoria. No dizer analítico de Shimoda Bolen, este mito tratará das relações entre o poder, o amor (representado aqui pela deusa Freya) e a sabedoria (simbolizada pela deusa Erda). Wotan, na luta sicótica para conseguir o anel e aumentar, assim, ainda mais seu domínio e poder, sacrifica a deusa do amor –Freya- aos gigantes do Reino, comprometendo seus sentimentos e privando todos os demais deuses da necessária função de Freya. É o que ocorre quando um complexo emocional ou uma rígida estruturação sicótica são mais fortes que qualquer outra necessidade psíquica do indivíduo.
O Complexo do Poder em Wotan leva-o à necessidade de dominação e aos consequentes autoritarismo e frieza afetiva. Wotan torna-se calculista, planejador , astuto e enganador. ”Os sentimentos pessoais não contam”.
Shimoda Bolen alerta para o fato de que “pessoas desvalorizadas e não amadas costumam se deixar levar pela ambição do poder” , que seria uma compensação sicótica para uma carência de auto-confiança psórica. Ressalta que “quando se identifica com este arquétipo, age, pensa e se comporta como se fosse este próprio arquétipo”.
A correlação homeopática dar-se-ia com o medicamento Lycopodium clavatum- descrito nas Matérias Médicas como “ um musgo de crescimento ralo e seco, chegando a um comprimento de pouco mais de um metro, sempre, porém, rastejando no chão;
Lycopodium pode envolver-se num egocentrismo narcisista” (Whitmont), ofendendo-se facilmente ao mesmo tempo em que caminha através da sicótica imposição autoritária pelo poder, compensação equivocada ao psórico medo de falhar, devido à sua debilidade
( grifos nossos)

Lycopodium-Wotan apresentar-se-á como alguém que muda de postura de acordo com as conveniências: “quando estão numa posição inferior podem ser subservientes, diante de um superior ; quando têm o poder ,podem ser ditatoriais, impacientes e imperiosos diante dos que estão sujeitos a eles”.
(Shimoda Bolen ).
Wotan termina seus dias só e abandonado, após ter privado o Reino (sua própria alma) da presença do amor e da ternura(Freya).
Jung atentou para o fato de vários de seus pacientes , especialmente os de origem germânica , no período próximo à segunda Guerra Mundial apresentarem sonhos de identificação com Wotan. Tratava-se de pessoas inseguras em busca de um status de dominação e poder.


LYCOPODIUM CLAVATUM : A BUSCA DO PODER E O SACRIFÍCIO DO AMOR:

Propondo um paralelismo entre os principais sintomas de Wotan com os sintomas mentais de Lycopodium clavatum presentes nas Matérias Médicas e Repertórios Homeopáticos, podemos didaticamente agrupar em temas específicos as manifestações do complexo de poder no paciente que homeopaticamente seja semelhante (Leis de Similitude Homeopáticas) a Lycopodium , inconscientemente identificado com Wotan:
1-minus-valia
2-ilusão de abandono
3-obstinação pelo poder
4-autoritarismo
5-comprometimento das aspirações ético-morais da personalidade com deterioração do pólo afetivo

Sintomas de minus-valia e abandono:

Abandono- sente como se não fosse amado por seus pais, esposa e amigos.
Insegurança
Ilusão de ser desafortunado
Medo de ser incapaz de alcançar o seu destino
Medo de falhar


TEMA DO PODER :

AMOR AO PODER ( ÚNICO REMÉDIO)

Ambição
Ditatorial, fala com ar de comando
Delírio – imperioso( delirium- imperious)
Insanidade ditatorial
Insanidade megalomaníaca


A respeito dos meios empregados para obter o Poder almejado :

Não confiável em suas promessas ( unreliable , promisses, in his)
Ambição- emprega todos os meios possíveis
Falta de caráter( character, lack of)
Corrupto, venal ( corrupt, venal)
Cínico ( cynical)
Dissimulador, enganador ( deceitful, sly)
Duro com subordinados e afável com superiores
Hipocrisia
Ingrato
Delírio, com inveja
Inveja, com avareza ( envy- avidity and)
Inveja a qualidade dos outros (envy, qualities of others)
Humor repulsivo ( mood-repulsive)
Pérfido (perfidious)


Perda da Afetividade/Amor :


Aversão a crianças
Aversão às crianças dela mesma
Aversão aos membros da família
Não reconhece os seus parentes
Mental- Falta de Sensibilidade


Conclusão:
As personalidades psíquicas sicoticamente centradas no Poder ,seja como forma
autoritariamente e/ou ardilosamente exercida,re-vivenciam o mito do deus Wotan.Arquétipos
sombrios são vigorosas forças de sustentação para personalidades originalmente
débeis.
Em Jung a individuação de cada um,a busca do seu mito pessoal pelo terapeuta são
base para a descoberta da cura ou equilíbrio da energia psi(Jung).Homeopaticamente
, a compreensão dinâmica da psique individual possibilita a descoberta do medicamento
homeopático adequado ao re-equilíbrio da força vital (Hahnemann , Kent , Masi
Elizalde , Paschero ).
Estudar outras fontes do conhecimento humano , no modelo proposto por Edgar Morin
,tais como a Mitologia e a Psicologia Profunda de Jung só enriquecerão o homeopata
que esteja aberto para a trans-disciplinaridade, proporcionando , a si mesmo ,
uma visão mais ampla.






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