sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Um caso de Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA)

Setor: CLÍNICA HOMEOPÁTICA E CASOS CLÍNICOS

Título e Autores:
UM CASO DE LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA (LTA) TRATADO COM HOMEOPATIA
Vagner Doja Barnabé 1
Sylvio Antonio Mollo 1
Adriana de Q. S. Bufalo 1
Ana Amélia C. C. Olandim 1
 1 – Médicos Homeopatas do Grupo de Estudos Homeopáticos de São Paulo “Benoit Mure”
Resumo: Os autores após uma breve introdução da LTA e suas características, relatam um caso de LTA em tratamento homeopático, e acompanhamento pelo Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas – Fiocruz, há um ano.
Introdução: O objetivo é demonstrar a eficácia do tratamento homeopático na LTA, opção terapêutica mais suave, rápida e duradoura. A Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA), também conhecida como ferida brava ou úlcera de Bauru, é uma doença que atinge seres humanos e animais, envolvendo uma grande maioria de mamíferos silvestres além de cães e cavalos, reservatórios do parasita. É uma doença infecciosa, não contagiosa, causada por protozoários do gênero Leishmania, transmitida pela picada de mosquitos fêmeas do gênero Phlebotomus, popularmente conhecidos como mosquito palha, birigui, cangalhinha. É uma doença endêmica que predomina em regiões tropicais e subtropicais de 88 países. No Brasil, apesar da grande incidência nas regiões norte e nordeste, observa-se uma expansão geográfica, uma vez que casos já foram notificados em todos os estados.
Esta patologia constitui um problema de saúde pública devido à incidência, ampla distribuição geográfica e presença de seqüelas desfigurantes, destrutivas e incapacitantes.
A LTA caracteriza-se por lesões exclusivamente na pele ou na pele e mucosa, após a picada do inseto a lesão inicia-se como pápula eritematosa que evolui para nódulo, muitas vezes verifica-se o aumento de volume do gânglio regional, constituindo-se então, o complexo primário leishmaniótico. Com o desenvolvimento da doença, percebe-se o polimorfismo das lesões ( lesões impetigóides, liquenóides, tuberculosa ou lupóides, nodular, vegetante e ectimóide). Ulcerações com bordas elevadas, enduradas e fundo com tecido de granulação grosseira são apresentações freqüentes de LTA, considerada a forma clássica da lesão com borda em moldura. São em geral indolores, podendo apresentar prurido, sensação de calor e dor. Predominam em áreas corporais expostas e se instala em pacientes provenientes de áreas endêmicas.
Na apresentação cutânea as lesões podem caracterizar a forma localizada (única ou múltipla), a forma disseminada (numerosas em várias áreas do corpo), e a forma difusa (rara). Às vezes as lesões apresentam caráter tórpido crônico, outras vezes tendem para a cura espontânea residuando cicatriz deformante.
Após essa fase inicial, em um período de tempo variável, pode ocorrer a generalização, que se realiza nas mucosas do nariz, boca, faringe e laringe, onde se produzem ulcerações crônicas, vegetantes e até destrutivas, resultando perfuração do septo nasal com deformidade do nariz, destruição do palato ou das cartilagens laríngeas.
Informações clínicas: mulher, 42 anos, residente em área endêmica de Leishmaniose, seguindo orientação homeopática exclusiva desde 04/l999, a partir de 04/05/07 apresentou lesão ulcerada em região perimaleolar medial Esq. e linfoadenomegalia palpável em região inguinal Esq.
Conduta Homeopática:
04/05/07 –A paciente retorna à consulta com os sintomas:1. Tristeza com desânimo,2. choro desesperado e intenso,3. medo de doença grave,4. perde-se em locais conhecidos, 5.hipersensível ao frio, 6.ulcera perimaleolar Esq. Dos sintomas da Síndrome Mínima de Valor Máximo (SMVM), o mais peculiar à paciente é o sintoma 4, por ser a primeira vez a apresentá-lo e tão intenso.No Repertório de Kent, na sessão Mind encontramos a rubrica Recognizedoes not, well known streets, que mostraPetroleum com três pontos, e em sua Matéria Médica , Kent ensina que depois de tomar Petroleum o experimentador “ficou tão confuso que se perdeu na rua”.CD:Petroleum C30, X/XX/15, tomar uma colher das de chá pela manhã em jejum durante três manhãs seguidas.
28/05/07 – Melhora total dos sintomas mentais.Refere dor intensa em ferroadas, com sensação de ardor, intenso prurido com agravação ao toque na região peri-ulceral que apresentava intenso inchaço.Mantém adenomegalia inguinal Esq., pior antes da menstruação.Como, o antipsórico Petroleum continua agindo, escolhemos Hepar sulphuris C6 , um plus de uma hora, a fim de diminuir a agravação local, e pela sua característica marcante em produzir sintomas de úlceras, com intenso processo inflamatório, dores em agulhadas e queimantes em suas bordas.Alguns dias após a medicação a paciente refere melhora importante dos sintomas locais, com diminuição quase que total da adenomegalia inguinal, e melhora mental mantida.
09/07/07 – A paciente procura o Serviço de Dermatologia da FIOCRUZ. À inspeção , relata ulceração em região peri-maleolar esq., com 2,5×2,0 cm de diâmetro, com crosta hemática central e bordas eritematosas moderadamente infiltradas. HD: LTA, Esporotricose. Realiza biópsia , com cultura , sorologia e intradermo-reação de Montenegro, com resultados positivos para LTA.
28/07/07- A paciente retorna referindo que na última semana apresentava intensa flatulência, com distensão abdominal após as 16 horas, com constipação intestinal , que há muito tempo não apresentava mais, um desejo exagerado de doces, muito irritada, sem apresentar alteração na evolução da úlcera. Os sintomas modificados levou-nos a prescrever Lycopodium clavatum C12, X/XX/15-sol., para ser tomada em três doses.
Segunda consulta na Fiocruz – 06/08/07.
Dermatologia: Como a paciente é médica homeopata, e está em dúvida quanto ao tratamento alopático da LTA, propusemos avaliar a opção terapêutica de glucantime intra-lesional. Retorno em aberto a depender da opção da paciente.
Sorologia: 1:80.
ORL: Sem alterações.
Terceira consulta na Fiocruz – 3/09/07.
Dermatologia: A lesão encontra-se ainda ulcerada, de bordas eritematosas medindo 3,5 X 2,3 cm e centro recoberto por espessa crosta pio-hemática de 2,0 X 1,5 cm de diâmetro; relata dor apenas quando a crosta é eliminada.
Obs.: Irá manter acompanhamento Dermato + ORL até entrar em “controle de cura”. Somente com tratamento homeopático.
ORL: Sem lesões mucosas.
12/09/07- A paciente retorna referindo melhora geral da mente, e dos sintomas locais.Resolvemos por subir a potência, repetindo o medicamento Lycopodium clavatum agora na potência C18, em dose única, 2 glóbulos pela manhã em jejum.
Quarta consulta na Fiocruz – 08/10/07.
Dermatologia: A lesão encontra-se hoje epitelizada, com 2,8 X 1,5 cm de diâmetro, com descamação periférica. Entra hoje em controle de cura.
Sorologia: 1:40.
ORL: Sem lesões mucosas.
23/10/07 – Melhora geral e início da cicatrização da lesão.CD: Lycopodium clavatum C6 – DU
Quinta consulta na Fiocruz – 19/12/07
Dermatologia: Mantém lesão epitelizada, eritemato-violácea, em região perimaleolar medial esquerda. Não há queixas de dor.
ORL: Sem lesão mucosa.
Sexta consulta na Fiocruz – 17/03/08.
Dermatologia: Mantém lesão epitelizada, com centro atrófico, em região perimaleolar medial esquerda. Não há queixas de dor.
ORL: Sem lesão mucosa.
19/03/08 – Fisgadas em escápulas, dor na região lombar ao movimento ou pressão e formação de nódulos. Melancolia e irritabilidade. Terçol na pálpebra superior D com prurido.Ulcera cicatrizada.CD: Spigelia C30 – DU.
24/05/08 – Transtorno às contrariedades, triste e irritada, choro intenso, friorenta, com agravação intensa antes da mentruação, aumento do terçol da pálpebra superior D, com ardor e prurido e aumento da pápula da reação de Montenegro no antebraço Dir com prurido e evolução para pústula.Os sintomas locais da pálpebra e do antebraço, com este mental tão intenso, não há outro medicamento descrito na Matéria Médica de Doenças Crônicas de Hahnemann como Hepar sulphuris, que foi administrado na potência C30, em soluçãoX/XX/15.Houve evolução com melhora dos sintomas mentais, da disposição geral ,melhora do terçol e melhora gradual da pústula no antebraço.
Conclusão: A homeopatia, aplicada conforme os precisos preceitos hahnemannianos mostrou ser não só eficiente no tratamento da lesão causada pela leishmaniose, com evolução da úlcera para a cura, mas também , o paciente como um todo evoluiu no seu processo de vir-a-ser (ou perecer) nesse período de sua história analisado. W.E.Maffei nos ensinou que a lesão em si não tem importância, mas sim o seu modo. O acompanhamento na FIOCRUZ tem objetivado comparar a evolução da LTA tratada com o método alopático e o homeopático. Mesmo com os parâmetros clássicos, a terapêutica homeopática evidenciou-se bem sucedida, com evolução para a cura da paciente sem expo-la ao risco da toxicidade dos remédios alopáticos, no caso glucantime com possível ação tóxica sobre coração, rins e fígado, e conseqüente aprofundamento da psora.

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